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Nine and a half Weeks, em português, Nove semanas e meia
de amor, 1985, Warner Bros. Pictures Distribution Inc.
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Ah,
o amor. Sentimento tido por uns como tão belo. Por outros, apenas algo mágico.
Mas a verdade é que a coisa é bem real mesmo. E tudo que é real... é
concreto... ou abstrato? Que forma de se expressar seria essa que o ser humano
tanto a sente, mas não sabe descrever? Seria isso, de acordo com o poeta um
pouco meio milenar, um “fogo que arde sem se ver”? Ou “uma ferida que dói e não
se sente”? Seria ainda aquele “contetamento descontente”? Discussões,
idealizações e meras analogias (ou anarquias) a parte, vamos ao que nos
interessa. Sabe aquele lindo filme que as meninas (hoje mulheres) adoravam nos
anos 80 (1985, foi ontem não é?), e, com os lenços manchados de maquiagem, se
acabavam de chorar e se emocionar nas salas de cinema? Pois bem, a minha
lembrança à respeito desse filme, era de uma mensagem totalmente trash, porém
envolvente. Depois de revê-lo, centenas de dezenas de vezes, principalmente
hoje, em nossos lindos dias de contemporaneidade, de “pós, e após, e re-pós
modernidade”, percebo que a estética recepcionista dos anos 80 (aquela década
mágica e inovadora em músicas, filmes, e temáticas antes nunca exploradas como
essa) tornou esse filme um verdadeiro “clichezão”. Porém, o próprio tem sim, um
sentido psicológico que vale à pena ser (muito) discutido. O filme, trabalho
excelente do diretor Adryan Lyne diga-se passagem, valoriza e insinua falhas,
acertos e excessos (ou exageros?) de pudor que permeiam (in)felicidades e
desejos não cumpridos dos casais, mostrando essas realizações não aceitas, como
bizarrices que podem tanto fazer a relação mais feliz, quanto destruir não só a
relação, mas também a vida social dos “amantes” em questão. É muito amor à
tona!
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A mulherada sempre sonha tanto com um John, não é? |
“Comecemos
pelo começo” de tudo, só pule a parte em que havia luz. Sabe aquela mulher,
desejada por todos (é claro que as mulheres amam se sentirem desejadas e/ou ,
observadas, não me venham com essa, femininas!), de parar o transito, linda,
meiga, apaixonada pela vida, que sai recentemente de um fim de relacionamento?
Pois bem, sinta-se bem vinda ao clube. Depois de “erguer” um pouco seu lindo e
simpatizante ego, te calço as sandálias. Você está lá, de boa com sua(s)
amigas, e de repente surge aquela cantada, que você está cansada de ouvir por
parte de um babaca qualquer. Você até que olha, e ignora; quando se vira, dá de
cara com aquele bonitão, charmoso, com cheiro (ele também é cheiroso) de
dinheiro e de sexo de longe, misterioso, do sorriso capaz de encantar qualquer
mulher. Certo. Quem nunca passou por isso na vida? Homens, manifestemo-nos aqui
também. Isso vale pra nós, os verdadeiros. Cuidado menina! Você jura que
descobriu o homem da sua vida, e, indo mais além, jura que isso foi “amor a
primeira vista” – e que vista eihn?
Depois
de tantas trocas de olhares, e de tantas “comidas” – no verdadeiro sentido da
palavra, sem malícias claro – pra lá e pra cá, ele te leva a vários lugares. Te
envia roupas, te compra presentes (como aqueles que você desejava ter em algum
momento essa semana ou no decorrer dos meses). Te faz surpresas, te leva a
parques... é o homem dos sonhos de qualquer mulher, não é?
Até
que algumas coisas mudam de repente. Você mulher, passa a frequentar mais a
casa dele, auto considerando-se a dona do pedaço, mesmo não sendo uma boa
cozinheira, ou mantendo a casa limpa, uma vez que tudo quem faz é ele, e, sem
perceber, se entrega de corpo e alma ao charme daquele que seria o homem dos
seus sonhos. O sexo, tema principal da trama, é sensacional, você, caro telespectador, perde
simplesmente a conta de todos os orgasmos que ambos os personagens atingiram entre eles; ambos se tornaram verdadeiros símbolos sexuais e referencias no assunto, de modo que estavam literalmente "presos" arduamente, calientemente e liberalmente na trama, um ao outro. Percebemos claramente que eles usam e
abusam de posições, de trocas de “carícias e carinho”, de declarações de afeto
em público, de romantismo, de refeições quentes, de vendas e paredes, de
libidos e impedidos, de liberdades e igualdades. Ambos juravam estar em
sintonia fina! Quem diria, duas canelas finas... jurando estar vivendo o amor
de suas livres e desocupadas vidinhas!
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Nós homens, amamos uma Elizabeth. |
Mas
voltando ao sexo... (não podemos deixá-lo escapar de vista!) o que nos surge nesse “polêmico filme trash”? Apenas
perversidade. Esta te puxa de todos os cantos. Esses “defeitos” provavelmente
foram delimitados em uma época em que o pudor só permitia que se fizesse sexo,
com o casal separado por um lençol com um furinho bordado… a impressão que me é
dada, é a de que praticamente tudo é diferente disso, e, claro, a tão
preconceituosa sociedade considerou por muito tempo essa dádiva como doença. Deixando
pedofilia, e tantas outras “lias” de lado – o assunto aqui é sobre amor em nove
semanas –, o que é perversão para você? Tenho a impressão de que, nesse pequeno
período – pequeno no tamanho mesmo – da contemporaneidade se falava de sexo com
menos pudor, “a doença maldita” ainda tinha ares de boato, então os filmes
falavam e mostravam sexo com mais requinte. Lógico, hoje esse assunto ainda é (bastante)
explorado, porém é sentido que hoje ele é explorado como se resumisse a um ato
físico. Outra impressão que fica é a de que, apesar de nos denominarmos
atualmente como “liberais” sexualmente falando, existe um puritanismo velado,
que transformou qualquer filme que tenha a temática exclusiva de sexo, em
pornografia. Depois da imaginação, aliada a uma “boa perversão”, o foco do
filme é sedução. E nesse destrinchamento da própria, percebemos desde recursos
que até os primatas (isso mesmo!) utilizavam para atrair as fêmeas, como
oferecer comida, fazer um carinho na cabeça até chegar a sua capacidade ímpar
de conseguir com que “a fêmea” fique submersa em um universo fantástico e incrivelmente
“onívoro”. Após falarem pouco, conversarem pouco, apenas com aquelas trocas de olhares
já prevendo o que se realmente quer, explorarem lugares, e magicamente o filme
chega a produzir e transmitir aquela “doce e sensual sensação de odores”.
Enquanto a personagem
trabalha com obras de arte, em toda sua bidimensionalidade e subliminaridade dos
quadros expostos no filme, cada cena se transforma no que em nossa atualidade
já se expandiu, até em exposições dos museus, em experiências que extrapolam a
visão do produto, o sedutor personagem explora e solta seu charme e “chama ardente”
de galã conquistador (e olha que nem é barato) apenas aos poucos, ou, no
momento certo que melhor lhe aprouver. Em uma pequena sequência de tentativas,
ele já tinha sua “presa”. Desse modo, pede que ela tire o vestido, e já tendo arquitetado
tudo em mente, depois de tê-la levado a um total envolvimento, através de “cassiculus
pueris”, brincadeiras, jogos de irritação e… prazer, a dita cuja já se encontra
em estado quase hipnótico, por baixo do vestido um blusa transparente, e o
consentimento para ser vendada, sem resistência alguma – quer algo mais perfeito
e quente do que isso?
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"Arte pura", em todos os sentidos; aqui quem manda
é a figura masculina, o que já era bastante
esperado, porém é bem seguida de perto pela
feminina.
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A doce história induz-nos
(ou qualquer um) a crer (ou será realmente que funciona dessa maneira com a
maioria dos “casais”?) que coisas “simples”, como o mistério, ou até mesmo o medo,
seguidos de uma “falsa” irritação, são temperos (bem apimentados) para uma vasta
e completa excitação, sendo mais eficazes do que a simples beleza física ou “famosos
e fajutos” estímulos intelectuais – pensei que fossem sexuais, olha só minha
mente nessa postagem como funciona. Mas, não há semelhança cultural
significativa entre os dois (será?), apenas a vontade de vivenciar uma
experiência, com uma curiosidade quase (completamente) infantil. Interessante, casais,
como a importância dos “rituais amorosos” (ou pura perversidade) faz a
diferença: Lembra do relógio? Claro que, talvez você, minha cara e paciente
leitora dessa besteira sem fim, ache isso coisa baixa ou (mera)completamente
idiota, mas como você se sentiria sendo pedida para que todos os dias, ao meio
dia, você se tocasse o seu... pensando nele… ah, bom, claro (que não, né? Além
de seres muito pura pra tal coisa, ele não merece) a esta altura e nos próximos
dias, ela está completamente absorta, fora de si…em momentos dessa “transe”, com
certeza, pelo visto, ela “passeia sua imaginativa e vasta visão” sob quadros
surrealistas, realismos fantásticos…que ilustram perfeitamente para onde sua
mente está se direcionando – claro que seria ele!
Certamente o filme,
sendo da década de 80, sugere certa vulgaridade, mas imagino-o sendo refeito
com mais requinte. Se fosse o diretor do filme naquela época, faria mais
coisinhas que casais “daquela mesma época” faziam e nem sentiam vergonha. Mas a
sociedade, sempre “pagã e pura”, sempre oprime, não é? O que friso, é apenas a
simplicidade com que tudo é feito. O cara é um mágico da sedução! A diferença
entre estar em um escritório, cercado da alta cúpula de Wall Street, e um
parque de diversões. É o famoso sedutor e “introdutor” de sentidos; sendo assim,
leva qualquer um(a) à reflexão de como somos chatos e complicados para a
escolha de um parceiro, medindo carteiras, intelectos, belezas, semelhanças... a
história nos ensina a esquecer compêndios sobre o prazer, e se preocupar apenas
com o ponto “G”.
Finalizando, e a
relação? O quer seriam nove semanas e meia, afinal de contas? Havia amor em um
curto período/espaço de tempo? Quase três meses. Você, mulher, jovem, vivida,
está a procura de um John? Ou apenas de um homem normal? Será que o teu lado
Elizabeth nunca vai surgir? Ou preferes deixa-lo apenas retido, lá dentro de
ti? Esse é um ponto delicado. Mas, com toda indelicadeza, não passou de uma
aventura, uma relação intimista, sem intenção de se tornar social ou racional.
O prazer e o que ofereceu a festa apenas ofereceu um pequeno momento de sua
vida para experimentá-la de maneira à dois, exclusivamente à dois mesmo, sem
interferência ou convívios alheios, como se esse contato externo fosse capaz de
estragar a magia – preservar que não
preservou, não é? Quem diria, o todo poderoso John, deixou sua fértil
imaginação entregue à uma rotina de desgastes e perversões, confiando tanto em
seu ego de conquistador, e seu facho de “bom de cama”, que deixou a doce e pura
(rainha, princesa que nunca perde a pureza) Elizabeth simplesmente ir. E falhou
tão feio (bem feito), que foi brincar de contagem. A mulher cansou. Com toda
sua esperteza – característica presente em toda mulher – e maturidade, ela
sabia muito bem, como entrar, e como sair. Uma coisa é certa: O John marcou nas
nove semanas e meia, e continua marcando em nove anos e meio, em noventa e nove
anos e meio, e em novecentos, e eternamente.
Por Dandan Gouveia, 12 de junho de 2013.
Pensando em que? Nesses amores de hoje, claro!