quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um pouco de conversa: Amor em nove semanas e meia?

Nine and a half Weeks, em português, Nove semanas e meia
de amor, 1985, Warner Bros. Pictures Distribution Inc.
       Ah, o amor. Sentimento tido por uns como tão belo. Por outros, apenas algo mágico. Mas a verdade é que a coisa é bem real mesmo. E tudo que é real... é concreto... ou abstrato? Que forma de se expressar seria essa que o ser humano tanto a sente, mas não sabe descrever? Seria isso, de acordo com o poeta um pouco meio milenar, um “fogo que arde sem se ver”? Ou “uma ferida que dói e não se sente”? Seria ainda aquele “contetamento descontente”? Discussões, idealizações e meras analogias (ou anarquias) a parte, vamos ao que nos interessa. Sabe aquele lindo filme que as meninas (hoje mulheres) adoravam nos anos 80 (1985, foi ontem não é?), e, com os lenços manchados de maquiagem, se acabavam de chorar e se emocionar nas salas de cinema? Pois bem, a minha lembrança à respeito desse filme, era de uma mensagem totalmente trash, porém envolvente. Depois de revê-lo, centenas de dezenas de vezes, principalmente hoje, em nossos lindos dias de contemporaneidade, de “pós, e após, e re-pós modernidade”, percebo que a estética recepcionista dos anos 80 (aquela década mágica e inovadora em músicas, filmes, e temáticas antes nunca exploradas como essa) tornou esse filme um verdadeiro “clichezão”. Porém, o próprio tem sim, um sentido psicológico que vale à pena ser (muito) discutido. O filme, trabalho excelente do diretor Adryan Lyne diga-se passagem, valoriza e insinua falhas, acertos e excessos (ou exageros?) de pudor que permeiam (in)felicidades e desejos não cumpridos dos casais, mostrando essas realizações não aceitas, como bizarrices que podem tanto fazer a relação mais feliz, quanto destruir não só a relação, mas também a vida social dos “amantes” em questão. É muito amor à tona!
A mulherada sempre sonha tanto com um John, não é?
       “Comecemos pelo começo” de tudo, só pule a parte em que havia luz. Sabe aquela mulher, desejada por todos (é claro que as mulheres amam se sentirem desejadas e/ou , observadas, não me venham com essa, femininas!), de parar o transito, linda, meiga, apaixonada pela vida, que sai recentemente de um fim de relacionamento? Pois bem, sinta-se bem vinda ao clube. Depois de “erguer” um pouco seu lindo e simpatizante ego, te calço as sandálias. Você está lá, de boa com sua(s) amigas, e de repente surge aquela cantada, que você está cansada de ouvir por parte de um babaca qualquer. Você até que olha, e ignora; quando se vira, dá de cara com aquele bonitão, charmoso, com cheiro (ele também é cheiroso) de dinheiro e de sexo de longe, misterioso, do sorriso capaz de encantar qualquer mulher. Certo. Quem nunca passou por isso na vida? Homens, manifestemo-nos aqui também. Isso vale pra nós, os verdadeiros. Cuidado menina! Você jura que descobriu o homem da sua vida, e, indo mais além, jura que isso foi “amor a primeira vista” – e que vista eihn?

         Depois de tantas trocas de olhares, e de tantas “comidas” – no verdadeiro sentido da palavra, sem malícias claro – pra lá e pra cá, ele te leva a vários lugares. Te envia roupas, te compra presentes (como aqueles que você desejava ter em algum momento essa semana ou no decorrer dos meses). Te faz surpresas, te leva a parques... é o homem dos sonhos de qualquer mulher, não é?

        Até que algumas coisas mudam de repente. Você mulher, passa a frequentar mais a casa dele, auto considerando-se a dona do pedaço, mesmo não sendo uma boa cozinheira, ou mantendo a casa limpa, uma vez que tudo quem faz é ele, e, sem perceber, se entrega de corpo e alma ao charme daquele que seria o homem dos seus sonhos. O sexo, tema principal da trama, é sensacional, você, caro telespectador, perde simplesmente a conta de todos os orgasmos que ambos os personagens atingiram entre eles; ambos se tornaram verdadeiros símbolos sexuais e referencias no assunto, de modo que estavam literalmente "presos" arduamente, calientemente e liberalmente na trama, um ao outro. Percebemos claramente que eles usam e abusam de posições, de trocas de “carícias e carinho”, de declarações de afeto em público, de romantismo, de refeições quentes, de vendas e paredes, de libidos e impedidos, de liberdades e igualdades. Ambos juravam estar em sintonia fina! Quem diria, duas canelas finas... jurando estar vivendo o amor de suas livres e desocupadas vidinhas!

Nós homens, amamos uma Elizabeth.
       Mas voltando ao sexo... (não podemos deixá-lo escapar de vista!) o que nos surge nesse “polêmico filme trash”? Apenas perversidade. Esta te puxa de todos os cantos. Esses “defeitos” provavelmente foram delimitados em uma época em que o pudor só permitia que se fizesse sexo, com o casal separado por um lençol com um furinho bordado… a impressão que me é dada, é a de que praticamente tudo é diferente disso, e, claro, a tão preconceituosa sociedade considerou por muito tempo essa dádiva como doença. Deixando pedofilia, e tantas outras “lias” de lado – o assunto aqui é sobre amor em nove semanas –, o que é perversão para você? Tenho a impressão de que, nesse pequeno período – pequeno no tamanho mesmo – da contemporaneidade se falava de sexo com menos pudor, “a doença maldita” ainda tinha ares de boato, então os filmes falavam e mostravam sexo com mais requinte. Lógico, hoje esse assunto ainda é (bastante) explorado, porém é sentido que hoje ele é explorado como se resumisse a um ato físico. Outra impressão que fica é a de que, apesar de nos denominarmos atualmente como “liberais” sexualmente falando, existe um puritanismo velado, que transformou qualquer filme que tenha a temática exclusiva de sexo, em pornografia. Depois da imaginação, aliada a uma “boa perversão”, o foco do filme é sedução. E nesse destrinchamento da própria, percebemos desde recursos que até os primatas (isso mesmo!) utilizavam para atrair as fêmeas, como oferecer comida, fazer um carinho na cabeça até chegar a sua capacidade ímpar de conseguir com que “a fêmea” fique submersa em um universo fantástico e incrivelmente “onívoro”. Após falarem pouco, conversarem pouco, apenas com aquelas trocas de olhares já prevendo o que se realmente quer, explorarem lugares, e magicamente o filme chega a produzir e transmitir aquela “doce e sensual sensação de odores”.

           Enquanto a personagem trabalha com obras de arte, em toda sua bidimensionalidade e subliminaridade dos quadros expostos no filme, cada cena se transforma no que em nossa atualidade já se expandiu, até em exposições dos museus, em experiências que extrapolam a visão do produto, o sedutor personagem explora e solta seu charme e “chama ardente” de galã conquistador (e olha que nem é barato) apenas aos poucos, ou, no momento certo que melhor lhe aprouver. Em uma pequena sequência de tentativas, ele já tinha sua “presa”. Desse modo, pede que ela tire o vestido, e já tendo arquitetado tudo em mente, depois de tê-la levado a um total envolvimento, através de “cassiculus pueris”, brincadeiras, jogos de irritação e… prazer, a dita cuja já se encontra em estado quase hipnótico, por baixo do vestido um blusa transparente, e o consentimento para ser vendada, sem resistência alguma – quer algo mais perfeito e quente do que isso?

"Arte pura", em todos os sentidos; aqui quem manda
é a figura masculina, o que já era bastante
esperado, porém é bem seguida de perto pela
feminina.
           A doce história induz-nos (ou qualquer um) a crer (ou será realmente que funciona dessa maneira com a maioria dos “casais”?) que coisas “simples”, como o mistério, ou até mesmo o medo, seguidos de uma “falsa” irritação, são temperos (bem apimentados) para uma vasta e completa excitação, sendo mais eficazes do que a simples beleza física ou “famosos e fajutos” estímulos intelectuais – pensei que fossem sexuais, olha só minha mente nessa postagem como funciona. Mas, não há semelhança cultural significativa entre os dois (será?), apenas a vontade de vivenciar uma experiência, com uma curiosidade quase (completamente) infantil. Interessante, casais, como a importância dos “rituais amorosos” (ou pura perversidade) faz a diferença: Lembra do relógio? Claro que, talvez você, minha cara e paciente leitora dessa besteira sem fim, ache isso coisa baixa ou (mera)completamente idiota, mas como você se sentiria sendo pedida para que todos os dias, ao meio dia, você se tocasse o seu... pensando nele… ah, bom, claro (que não, né? Além de seres muito pura pra tal coisa, ele não merece) a esta altura e nos próximos dias, ela está completamente absorta, fora de si…em momentos dessa “transe”, com certeza, pelo visto, ela “passeia sua imaginativa e vasta visão” sob quadros surrealistas, realismos fantásticos…que ilustram perfeitamente para onde sua mente está se direcionando – claro que seria ele!

Elizabeth (interpretada por Kim Basinger) é uma mulher inteligente, sofisticada e
bonita que trabalha como assistente em uma galeria de arte. Decidida, atraente,
persuasiva, independente e convidativa, seria a verdadeira mulher do século XX,
capaz de mexer com a cabeça de qualquer homem.
         Certamente o filme, sendo da década de 80, sugere certa vulgaridade, mas imagino-o sendo refeito com mais requinte. Se fosse o diretor do filme naquela época, faria mais coisinhas que casais “daquela mesma época” faziam e nem sentiam vergonha. Mas a sociedade, sempre “pagã e pura”, sempre oprime, não é? O que friso, é apenas a simplicidade com que tudo é feito. O cara é um mágico da sedução! A diferença entre estar em um escritório, cercado da alta cúpula de Wall Street, e um parque de diversões. É o famoso sedutor e “introdutor” de sentidos; sendo assim, leva qualquer um(a) à reflexão de como somos chatos e complicados para a escolha de um parceiro, medindo carteiras, intelectos, belezas, semelhanças... a história nos ensina a esquecer compêndios sobre o prazer, e se preocupar apenas com o ponto “G”.

          Finalizando, e a relação? O quer seriam nove semanas e meia, afinal de contas? Havia amor em um curto período/espaço de tempo? Quase três meses. Você, mulher, jovem, vivida, está a procura de um John? Ou apenas de um homem normal? Será que o teu lado Elizabeth nunca vai surgir? Ou preferes deixa-lo apenas retido, lá dentro de ti? Esse é um ponto delicado. Mas, com toda indelicadeza, não passou de uma aventura, uma relação intimista, sem intenção de se tornar social ou racional. O prazer e o que ofereceu a festa apenas ofereceu um pequeno momento de sua vida para experimentá-la de maneira à dois, exclusivamente à dois mesmo, sem interferência ou convívios alheios, como se esse contato externo fosse capaz de estragar a magia  – preservar que não preservou, não é? Quem diria, o todo poderoso John, deixou sua fértil imaginação entregue à uma rotina de desgastes e perversões, confiando tanto em seu ego de conquistador, e seu facho de “bom de cama”, que deixou a doce e pura (rainha, princesa que nunca perde a pureza) Elizabeth simplesmente ir. E falhou tão feio (bem feito), que foi brincar de contagem. A mulher cansou. Com toda sua esperteza – característica presente em toda mulher – e maturidade, ela sabia muito bem, como entrar, e como sair. Uma coisa é certa: O John marcou nas nove semanas e meia, e continua marcando em nove anos e meio, em noventa e nove anos e meio, e em novecentos, e eternamente.

Por Dandan Gouveia, 12 de junho de 2013. 
Pensando em que? Nesses amores de hoje, claro!