segunda-feira, 27 de junho de 2011

Analisando Kubrick: "Eyes Wide Shut"


      O Design do pôster do filme nos faz permanecer de olhos bem fechados, ou de olhos bem abertos? Desse fato, podemos iniciar uma análise desta última obra do diretor Stanley Kubrick. Sua forma gráfica, não diz muita coisa. Ela é simples e direta; diagramação centralizada e textos em um tamanho grande (forma de destaque) e apenas uma única imagem colocada no centro horizontal da área do cartaz, um casal, símbolo de união, respeito, sinceridade, amor. Depois de ver esse filme, fiquei com certa dúvida: Será isso mesmo? As cores também são poucas, mas bem marcadas. Mesmo tendo poucos elementos e sendo extremamente simples, ele atrai e prende o observador (fiquei atraído desde a primeira vez que o vi - risos).
    Interessante, o filme se inicia com os preparativos de um casal (aparentemente em completa sintonia, mas que você nota que existe algo errado com os dois) para uma festa, onde se apresenta os personagens e suas personalidades, diferentes em cada um. O interessante é que os personagens da trama são pouquíssimos, e as pessoas que participam do filme a maioria não são revelados (devido à grande maioria serem cobertos por máscaras em quase todo período do filme).
    Durante festa, a aparente estrutura familiar sólida do casal começa a se desmoronar. Antes de tudo, eles deixam a filha em casa, e durante o filme, parecem não dar muita importância a mesma, tornando-se não muito lembrada durante o filme, lembra um pouco nossa sociedade de hoje, preocupada em prazeres, dinheiro e elite, esquecendo-se do verdadeiro tesouro: os filhos. Mas vamos lá, Bill se entrosa com duas modelos, enquanto Alice se envolve com um sedutor homem, que fora convidado, que a corteja durante a festa. Bill, porém, é interrompido de sua “quase traição” (ainda tenho dúvidas sobre isso) pelo anfitrião da festa, seu paciente, para atendê-lo. Descobre que a emergência é, na verdade, uma prostituta desacordada devido a uma overdose de drogas. Neste momento as máscaras da sociedade começam a surgir. Homens casados traem suas mulheres nas festas de fim de ano, em seus próprios banheiros luxuosíssimos, revelando um universo embasado na traição, da vingança e da vulgaridade. Em casa, excitados com tudo o que aconteceu eles fazem sexo (e na frente do espelho, você já fez o teste? Gostou? Se sentiu confortável olhando constantemente pra sua mulher? Se você conseguiu, parabéns, ou você é cínico, ou realmente é fiel) realizando seus desejos não concretizados.
   A manhã seguinte começa com flashes do dia-a-dia do casal, Bill trabalhando em seu consultório e Alice cuidando de sua filha, confirmando seu papel de mulher bibelô (poucas vezes que mostra a filha do casal recebendo cuidados). Os flashes do marido e da esposa se alternam de maneira interessante: enquanto Bill cuida de um menino, Alice passa desodorante das axilas e verifica que elas não cheiram mal; enquanto Bill faz exame do toque nos seios de uma mulher, Alice toma café-da-manhã com a filha. Mais tarde, antes de dormirem, o casal fuma maconha e começam a discutir a noite anterior. Ambos questionam o comportamento um do outro, tentando confirmar qualquer tipo de suspeita.
  Bill se revela, aos poucos, bastante conservador. Defende idéias retrógradas em relação ao matrimônio, à sexualidade feminina e ao papel social da mulher. Afirma que nunca sentiu ciúmes de Alice e que a mesma não seria capaz de traí-lo, já que é mãe de sua filha e sua esposa há vários anos. Esse discurso serve como base para a construção da personalidade de Bill, e é um ponto crucial para explicar as ações tomadas pelo mesmo no desenrolar da história. Bill assumiu essa postura e construiu uma família, embasada em uma sólida e duradoura relação conjugal, sustentada financeiramente pelo seu tão árduo trabalho. No entanto, quando sua mulher revela que desejou sexualmente outro homem,  Bill se sente devastado. Realizando uma análise psicológica, a reação de Bill poderia ser explicada de várias maneiras. Essa grande mágoa e sensação de perda vivenciada por ele poderia remeter a uma ruptura para com a chamada "mulher ideal". Bill aplicou os conceitos dessa mulher idealizada em sua própria esposa, esperando que ela respondesse como tal. Quando confrontado com a natureza libertina e lasciva de Alice Bill falha em encaixá-la em seu ideal romântico, razão de seu desejo sexual tê-lo abalado tanto. Esse ideal feminino também poderia remeter, em uma instância um pouco mais profunda, à imagem da figura materna na vida de Bill. O interessante é que Bill, em se total conservadorismo, tem oportunidades de sobra pra viver loucas aventuras, mas durante grande parte do filme mostra seu lado conservador, e quando deseja “cair em tentação”, sempre surge algo inesperado, foi no caso da prostituta (que mais tarde apareceria morta), que pela primeira vez, havia sido atendida por ele no banheiro, que o volta a encontrar novamente (dessa vez em plena caminhada na rua), mas fica com aquele peso de consciência, mais tarde ele descobre que ela tinha AIDS, e novamente ela (sempre ela, lembrando a figura e um anjo da guarda) o salvando naquela verdadeira orgia sexual daquela sociedade secreta.
    A revelação do desejo de sua mulher Alice por outro, acarretaria uma perda ainda maior para ele, já que implicaria no desenvolvimento de uma visão negativa em relação às mulheres em geral, não ficando restrito apenas à Alice.
    Ela não se encaixa na figura feminina idealizada pelo marido, e tem plena consciência disso; no entanto, se sujeita a tal papel. Interpreta fielmente a mãe e dona-de-casa feliz tanto dentro de seu próprio lar quanto para o resto da sociedade. Possui desejos e anseios sexuais, os quais mantém reprimidos por mero conservadorismo cultural. Não seria socialmente aceitável  que uma mulher casada e da alta classe tornasse pública sua vontade de ter contatos íntimos com outros homens . É justamente por isso que até esse momento ela manteve seus pensamentos eróticos ocultos de todos, em especial de seu marido, pessoa com a qual teria que desenvolver a relação mais honesta e sólida de todas.
    Alice poderia ser considerada, por Bill, como mero objeto contemplativo. Teria o valor de uma bela visão, uma linda mulher (realmente nesse filme ela está impecável) que o médico gosta de ter ao seu lado quando um de seus pacientes os convida para uma pomposa comemoração natalina, tempo de união, aumento de laços fraternos, época de esquecimento, nova oportunidade para perdões e todas essas coisas. Sua mulher serviria como uma boa maneira de se apresentar à alta sociedade; ajudaria a manter uma falsa identidade criada por ele a fim de ser aceito no restrito círculo das pessoas ricas e influentes, que constituem seus pacientes. Alice ajudaria a sustentar a identidade criada por Bill para melhor sobreviver às relações sociais, uma espécie de máscara.
   Quando confrontada com as idéias de Bill em relação à fidelidade e ao papel social feminino, Alice se sente irritada por ele pensar de maneira tão divergente da dela. Decide então relatar seu desejo de natureza sexual para com um jovem oficial da marinha, desconcertando-o. Alice assume, para Bill, um posto de objeto de valor com função puramente contemplativa, além de ser economicamente sustentada pelo mesmo.
    Não é difícil analisar De Olhos Bem Fechados, último filme de um gênio, sem se lembrar a toda hora de seu diretor. Stanley Kubrick. O fato de não separar o autor da obra, é frequente, ainda mais quando o diretor morre logo em seguida. De Olhos Bem Fechados é interessante, sem dúvida alguma, mas inconsistente. Kubrick morreu quatro dias depois de exibir aos produtores da Warner a primeira cópia do filme. Perfeccionista compulsivo, a ponto de estender as filmagens durante dois anos, além exigir dedicação total de Cruise e Kidman ao projeto e repetir exaustivamente algumas cenas, é bem provável que o diretor burilasse a obra antes de esta chegar ao público. É um filme estranho, não sujeito a classificações, mas adulto, inquietante, e bastante satisfatório.

Eyes Wide Shut, Inglaterra/EUA, 1999, 159 min. Colorido. Distribuido pela Warner Bros.
Com Tom Cruise, Nicole Kidman, Madison Eginton, Jackie Sawiris, Sydney Pollack, Leslie Lowe, Peter Benson, Todd Field. Escrito, Produzido e Dirigido por Stanley Kubrick.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Por que esta geração de consoles será maior?
Reportagem do TechTudo

           Iniciada com a chegada do Xbox 360 em 2005, a geração atual de consoles parece que não vai acabar tão cedo, ao contrário do esperado. John Riccitiello, presidente da Eletronic Arts, comentou: “Embora estejamos em um período incerto do mercado mundial, acredito que teremos um ciclo de hardware mais extenso que os demais”. Bobby Kotick, presidente daActivision, compartilhou opinião semelhante; disse achar que ainda há muita estrada pela frente para os consoles atuais e evitou antecipar quando acontecerá uma mudança significativa no cenário atual.

Dificuldade de mudança de engines

     As produtoras que tanto investem na criação de jogos para os consoles atuais, teriam que transferir todos estes recursos desenvolvidos para uma nova geração, o que requer um grande investimento de capital, e também pode ser um grande risco. Os desenvolvedores também se encontram na mesma situação. Martyn Chudley, da Bizarre Creations, afirma: “Pessoalmente, estou satisfeito com nossos bons níveis de performance, ferramentas e tecnologias aperfeiçoadas e com uma experiência estável dos usuários”.

SEGA Master System I. Anos 80.
      “Tentar fazer um jogo quando não há uma cadeia de produção predefinida ou ‘engine’ pronta ou quando você não tem idéia de o que a plataforma é capaz pode ser realmente frustrante”, Chudley diz. Segundo ele, construir jogos para uma plataforma ‘desconhecida’ é como ter que fazer a cópia de um desenho de olhos vendados. “Se você tiver domínio da técnica, pode sair bom; mas ainda é algo longe de uma obra-prima”. Chudley finaliza, dizendo: “(…) gostaria de ficar com a geração atual por mais dois ciclos de jogos.”

Super Nintendo. Segunda Geração de Consoles.
       Jogadores sempre querem algo novo, mas será que realmente se importam se o novo jogo rodará em um novo console ou em um que eles já possuem? A maioria das pessoas se importaria apenas com um jogo melhor. Martyn Chudley levanta essa conclusão com a recepção do público perante God of War II. “Todo game ficará melhor em uma plataforma já existente.”

Videogames não são mais ‘estáticos’

     Um dos grandes motivos para essa geração durar tanto está na constante “evolução dinâmica” das plataformas e dos jogos. Agora que as fabricantes Sony, Microsoft e Nintendo não estão mais lidando com plataformas estáticas, eles estão investindo ao máximo em seus aparelhos atuais, tornando qualquer tentativa de introduzir uma nova geração de consoles em um negócio pouco rentável.

Terceira Geração de Consoles. Playstation 1.
        Essa “evolução dinâmica” corresponde às atualizações e dos novos recursos inseridos nos consoles. Todos os possíveis bugs que aparecem ao longo do tempo pode ser corrigidos por atualizações: pacotes de dados inseridos no videogame quando estão conectados na Internet. Assim, os consoles só melhoram a sua performance.

Quarta Geração de Consoles. XBOX.
      Há também a inserção de novos recursos. No Playstation 3, a Sony já acrescentou o acesso à tecnologia 3D, o reconhecimento dos controles de movimento (Playstation Move eNavigation Controller), acesso à canais de TV, softwares de manipulação de fotos e de música, entre outros. O Xbox 360, além do suporte ao Kinect, teve grandes mudanças no layout da dashboard (menu do console), além da inserção da Live brasileira. Vale lembrar que ambos também têm funções compartilhadas com as redes sociais.

Consoles.
         Por mais que o mercado de games esteja em uma fase de dúvidas, a única certeza é a de que jamais houve tanto dinheiro circulando, o que torna o panorama atual mais complexo do que em qualquer outro momento de sua história. “O consumidor não muda seu comportamento enquanto não sabe que algo novo está a caminho”, garante Michael Pachter, famoso analista do mercado de jogos. Se isso for verdade, resta apenas paciência para as grandes produtoras darem mais outro passo para desenvolvimento de jogos, enquanto ainda somos atualizados por pacotes de dados para manter nos consoles atuais em pleno vapor.
Analisando Kubrick: "A Clockwork Orange"


        Para uma melhor análise do filme Laranja Mecânica, é importante contextualizá-lo na época de sua produção. Burgess, autor do livro em 1962 e o filme foi lançado em 1971, no auge da chamada contracultura. As décadas de 1960 e 70 produziram um conceito artístico de grande apelo visual (o Psicodelismo), advindo do uso de drogas psicotrópicas como o LSD, mais presente nos dias de hoje. As tonalidades fortes e vibrantes eram a marca deste movimento, que produziu inúmeras capas de discos tais como o famoso Sargent Pepper’s, dos Beatles e no Brasil os da Tropicália. Nesse sentido, Kubrick e os responsáveis pela fotografia do filme “enxugaram” o conceito do psicodelismo expondo-o através do uso das cores fortes e contrastantes, mas limpando seus arabescos, cuja lembrança ocorre, por exemplo, na cena inicial, no cardápio exposto nas paredes da Leiteria Korova. O diretor manteve, portanto, a marca de sua época, tentando imaginar um cenário futurístico, de final de século vinte, onde as formas seriam mais limpas e os espaços mais amplos. Ele “releu”, enfim, o ambiente daquela época, antecipando-se à consagração do movimento pós-modernista, que viria a acontecer a partir da década de 80.
        Personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do ser humano, formados a partir dos genes particulares que o mesmo herda, das existências singulares que ele suporta, além das percepções individuais que tem do mundo, capaz de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel na sociedade. Alex era um jovem que aparentava ser não muito obediente a seus pais. Ele não se importava com seus compromissos escolares, sociais e domésticos. A origem de toda essa sua falta de responsabilidade pode ser vista no próprio lar. Com certeza, Alex deve ter crescido num ambiente que lhe possibilitou tais ações suas quando já adulto. Por negação enquanto criança e acomodação enquanto adolescente e adulto, Alex evidenciou um comportamento meio que largado; um comportamento que mostrava total falta de respeito pelas leis do contrato de sua sociedade.
       Claro que isso não se torna uma desculpa, mas pode ter gerado um tipo de resultado negativo. Vimos no filme que Alex era violento. A violência de que o filme trata não é aquela gerada pela miséria e pela exclusão social, pelo contrário, é a violência que gera e intensifica as mazelas da sociedade moderna. A gangue liderada por Alex era bastante cruel, porque violentava pessoas por puro hedonismo, ao mesmo tempo fraca, a ponto de todos serem “tementes” ao seu líder, que depois perde esse prestígio. A vida humana é tratada como um utensílio qualquer e manipulada ou violentada de acordo com os humores de indivíduos que se julgam no direito de impor seus desejos e métodos aos demais. Não se trata de ausência de valores, mas de um tipo de valor onde o respeito à vida humana tem muito baixa cotação. O intelectual por não crer na justiça legal, resolve fazer a sua própria como vingança e dispõe de uma vida para atingir seus objetivos políticos. O governo com ares de totalitarismo que é retratado no filme, tortura e condiciona indivíduos para atingir seus objetivos no combate à criminalidade. Afinal, o governo descobre que um estuprador e assassino pode até mesmo ser útil quando uma sociedade possui ameaças como pessoas que defendem suas opiniões e publicam panfletos clandestinos.
     Os filmes de Kubrick são conhecidos por suas excelentes trilhas sonoras. A nona sinfonia de Beethoven tem uma função essencial no filme. Para muitos é um crime colocá-la como inspiração para um jovem delinqüente. Mas nada em Laranja Mecânica acontece por acaso. Segundo Sérgio Alberto de Oliveira, mestre em artes e doutor em música, o diretor nos traz, através da trilha sonora do filme, uma amostra fantástica do que é uma releitura e quais as suas intenções. Partindo da idéia contrária do modernismo, que se associa à criação do “novo”, o pensamento pós-moderno não mais acredita neste conceito, mas no de que tudo já foi criado e a partir de então tudo será recriado, revisto, relido. A música erudita, simbolicamente ligada ao espírito da perfeição, do clássico, da virtude, é usada no seu sentido contrário, fazendo uma “cama” sonora para a violência e degradação ética e moral. Desta forma, a Ode à Alegria de Beethoven, um hino à irmandade, à humanidade, transformou-se na sensação pura do ódio, da raiva, da “lembrança” da agressividade humana, expostas no momento da tortura auditiva de Alex pelo diretor.
      Violento (poucos os cineastas e suas obras que conseguem misturar o prazer em geral sem tornar clichês os atos e as frases. Brigas, estupros, assassinatos são apenas um mero fato no filme, e não estragam ou deixam repetitivas as ações de suas personagens), bombástico (olha que lançar um filme assim naquela época era meio controvertido, mas mesmo assim isso não o atrapalhou em nada), arrebatador (em nenhum momento você quer sair do filme), sonoro (musica clássica de primeira linha, Kubrick usa e abusa de Bethoveen, e introduz a musica como se ela fosse uma personagem do próprio filme), dançante (se torna delicioso e muito engraçado ver uma briga, ou até uma cena de “bacanal” ao som da nona sinfonia) e assustador (imaginar um futuro como Kubrick desenvolveu assusta até o mais conservador de todos) são essas palavras que descrevem essa obra prima do cinema, todas verdadeiras.
     As imagens construídas são deslumbrantes. O visual que atraiu as gangues juvenis do Reino Unido é forte e impactante, isso se pode ver ao longo de todo o filme, os cenários de cores vivas, os ambientes, mortos e decadentes, os trajes sofisticados e complicados, além da presença dos mendigos maltrapilhos. O contraste visual permeia toda a obra.
       Lembrando que quando soube que jovens ingleses estavam imitando o visual e os hábitos da gangue liderada pelo protagonista de seu filme, o diretor Stanley Kubrick pediu que todas as suas cópias fossem retiradas de circulação no Reino Unido, no que foi atendido pela distribuidora. Talvez Kubrick não imaginasse o quanto a realidade presente no seu filme estava próxima daquela que ele retratou como pertencendo ao futuro (visto que o filme foi rodado em 1971, mas se passando em meados da década de 90). A banalização da violência e seu cultivo como lazer ou meio de vida permeiam o mundo ocidental. Laranja Mecânica vai longe nessa análise quando justapõe imagens de uma estátua de Cristo estigmatizado numa montagem na qual ele parece dançar ao mesmo som que embala a agressão que transcorre na cena.


A Clockwork Orange, Inglaterra, 1971, 138 min. Colorido. Distribuido pela Warner Bos. 
Com Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, Adrienne Corri, Carl Duering, Paul Farrell, Clive Francis, Michael Glover, James Marcus, Aubrey Morris, Godfrey Quigley. Escrito, Produzido e Dirigido por Stanley Kubrick.

sábado, 18 de junho de 2011

Os desenhos de Nazca

        Dentre os muitos mistérios a serem solucionados, temos o deserto de Nazca, no sul do Peru, guarda uns dos mais interessantes. Descobertos em 1941, os enigmáticos geóglifos de Nasca são até hoje fontes de inspiração para os mais variados cientistas e arqueólogos. Estes desenhos se encontram numa área repleta de marcas de quilômetros de comprimento, que se entrecruzam e somem no horizonte, parecendo um gigantesco papel de rascunho.

Geóglifo de Nazca.
        Mas como foram feitos esses desenhos? Simples : raspando o solo. O chão do deserto é coberto por uma fina camada de rochas e seixos vulcânicos que, segundo cientistas e geólogos, devido a longa exposição à atmosfera, tem uma coloração escura, negra. Pouco abaixo desse revestimento está a base de argila e areia amarela. Os "artistas" do passado simplesmente removeram alguns centímetros de rocha para deixar os traços. Até a natureza, que poderia apagar para sempre os perfeitos geóglifos, ajudam na conservação do imenso quadro. A região é uma das mais secas do planeta, chovendo em média 15 minutos por ano; e as rochas escuras no solo absorvem o forte calor vindo da energia solar e formam uma camada de ar quente e parado na superfície, evitando assim a erosão pelo vento. Por isso os caminhos muito utilizados por carros e pessoas também ficam gravados no solo.

Representação de uma ave. Veja os detalhes do desenho.
        Quem observa as figuras fica impressionado. a maioria delas é tão grande que só é possível admirá-las do céu. São trapezóides, espirais, inúmeras linhas retas, algumas paralelas, que se estendem por quilômetros de extensão, em aproximadamente 300 formas. São animais diversos, entre eles uma aranha de 46 metros, um réptil de 188 metros e 18 pássaros, cujos tamanhos variam de 8 a 130 metros. Também destaca-se o cão, o iguana, o macaco, a flor ou estrela, figuras de peixes (lembrando que o mar fica a 50 km do deserto) e um pássaro estilizado de mais ou menos 280 metros de extensão, com um pescoço de cobra e um bico que, além de ser mais comprido do que o rabo, corpo e pescoço juntos, aponta para o sol nascente no dia do solstício de inverno. Além de figuras de animais, foram encontradas figuras de homens de aproximadamente 30 metros de altura.
        Uma das teorias, é de que as linhas tem uma relação com a astronomia, ou seja, são um tipo de calendário gigante, isso porque várias linhas apontam para a direção do nascimento e do pôr do sol nos solstícios de inverno e verão e também nos equinócios da primavera e outono respectivamente, assim como para os locais no horizonte assinalando o aparecimento sazonal das principais estrelas, que poderiam indicar as estações do ano para os antigos habitantes daquela área.

O famoso geóglifo do macaco.
        Em contrapartida a esta teoria, efetuando-se um levantamento das linhas e, com a ajuda de computadores, determinou-se que, astronomicamente falando, os traços são aleatórios, ou seja, não existe uma relação direta e única com os diversos corpos celestes, mas mesmo assim, os astrônomos concordam que várias linhas estão ligadas a fenômenos astrológicos. Uma outra teoria, mais famosa e que gera alvoroço na comunidade científica, seria a famosa visita de extraterrestres à Terra na pré-história, que ali estiveram num passado distante, os quais construíram 2 pistas de pouso para aeronaves, e após finalizarem sua missão no nosso planeta, partiram (você já deve saber quem afirmou tal coisa não é?). Como as tribos pré-incaicas queriam o retorno de seus "deuses", os extraterrestres, traçaram novas linhas no deserto da mesma forma que haviam visto os "deuses" traçarem.
      Os desenhos representando animais, seriam sinalizações aéreas indicando o tipo de energia ou vibração existente no local.

Geóglifo da aranha, absolutamente perfeito.
       Um animal com freqüência baixa, como a aranha, sinaliza este nível de vibração; já um beija-flor, uma energia acelerada. Seriam pictografias para comunicação visual rápida para os pilotos de naves. Devido as constantes mudanças de eixo da Terra, pode ser que hoje este locais não apresentem as mesmas características do passado. Enfim, o mistério permanece enquanto isso, as linhas de Nazca permanecem no árido deserto peruano, nos mostrando que ainda existem muitas coisas que não sabemos sobre nosso passado.
Analisando Kubrick: "Lolita"

       A importância de Stanley Kubrick na História do cinema é tamanha que pela segunda vez aqui o destaco. E será assim durante toda sua filmografia que será disponibilizada aqui. Lançado em 1962, Lolita é o sexto longa da carreira de Stanley Kubrick. Após sua experiência em Spartacus, tendo que brigar com Kirk Douglas por controle criativo, Kubrick decidiu que produziria seus próprios filmes. Lolita foi o primeiro, e nesse contexto, ganha importância por ser o primeiro passo do diretor em direção ao ideal de criar o seu próprio cinema. É interessante ainda destacar que houve problemas no roteiro, na seleção do elenco e na edição, tudo em função do tema polêmico (Gary Grant teria recusado indignado a oferta do papel principal). E é ainda em Lolita que se encontram pela primeira vez dois gênios, Kubrick (famosíssimo diretor) e Peter Sellers (famoso ator), que juntos criariam, dois anos mais tarde, talvez a maior atuação do cinema.
     Stanley Kubrick dizia gostar de adaptar livros medíocres, pois eles rendiam bons filmes. Assim sendo, não chega a surpreender a ironia de que o livro mais célebre adaptado para o cinema pelo diretor tenha resultado em sua obra de menor prestígio – com as possíveis exceções de Fear and Desire e A Morte Passou por Perto, obras do início da carreira do diretor. Adaptação do romance do russo Vladimir Nobokov sobre a relação pedófila entre um homem de meia-idade e a sua enteada de doze anos, Lolita teve censura fortíssima na época, contudo, obrigou o realizador a transformar em subtis sugestões toda a relação sexual entre ambos, resultando em momentos de grande carga erótica ainda assim, como quando Humbert (James Mason) pinta as unhas dos pés de Lolita (Sue Lyon).
        O primeiro passo para analisar Lolita deve ser, então, buscar razões com que se possa justificar o motivo de ser essa a obra que menos agrada o público. O motivo mais óbvio é o tema, bastante indigesto. Afinal, todo ser humano tem um limite de tolerância para com a torpeza da vida e da humanidade, e o sofrimento de crianças e jovens, em especial por motivos sexuais, excede esse limite para muita gente. Isso pode ser especialmente verdadeiro para espectadores conservadores e para pais e mães que vejam na menina Lolita suas próprias crianças. Com relação aos cinéfilos, em especial os fãs do diretor, o motivo anterior perde força, e o que provavelmente mais pesa contra Lolita é a comparação com os outros filmes de Kubrick. É provável que, ao assistir a esse filme, se tenha em mente a ousadia narrativa e visual dos clássicos 2001: Uma Odisséia no Espaço (um dos posts anteriores) e Laranja Mecânica; Lolita, bem menos ousado e inovador, sai perdendo.
       Mas calma, porque nada disso significa tratar-se de uma obra pequena ou medíocre. É possível notar a mão talentosa do diretor em diversas seqüências do longa. Tome como exemplos a conversa entre Humpert e o psicólogo da escola de Lolita; o encontro de Humpert e de Clare Quilty na varanda do hotel e a perseguição na auto-estrada, todas elas realizadas com maestria, criando tensão de uma forma que poucos diretores conseguiriam extrair de seqüências “tão simples”. As duas primeiras cenas citadas acontecem em ambientes escuros e claustrofóbicos, e contrapõem os personagens de maneira que o resultado é o que mais perto se poderia chegar de um duelo de faroeste expressionista. A seqüência da perseguição de carros, além de tecnicamente excelente, é também emblemática, pois marca o ponto a partir do qual o pouco controle que ainda restava a Humpert sobre sua vida termina. A partir dali, os acontecimentos o carregam, sem que ele consiga impedi-los, até que o personagem chegue a seu trágico destino.
       Muito mais interessante do que os méritos técnicos, são os questionamentos que a obra levanta e os temas que ela aborda. A versão de Kubrick não perde tempo justificando os motivos dos personagens, como o comportamento obsessivo de Humpert, sua degradação mental, a perda do seu caráter, e eventualmente, a maneira como a obsessão do mesmo destrói todos os que entram em contato com Lolita. Kubrick transforma uma vaga noção de amor que o personagem teria pela menina, e o arremessa em um redemoinho que inicialmente, por ser muito amplo, não dá a impressão de estar puxando Humpert para o fundo. Pois o amor tem mesmo uma faceta obsessiva, que obviamente não se manifesta em todos na forma corrosiva que destrói Humpert, mas que é capaz de, em alguns momentos, trazer à tona o pior de cada pessoa. Quando o amor é sadio, porém, essa exposição é seguida de compreensão e o que termina por ficar à superfície mesmo é o que cada um tem de melhor. Isso não ocorre com o personagem principal de Lolita por dois motivos. O primeiro é óbvio, sua própria natureza instável. O segundo se refere a sua amada, e ao comportamento dela em relação a ele.
       Diante disso, surge um outro questionamento essencial da obra: até que ponto existe mesmo a tal inocência da juventude? A personagem-título não é exatamente uma criança, mas para a época em que o romance foi escrito, ainda deveria estar na idade da inocência. Não obstante, ela manipula e engana Humpert seguidamente. Seria apenas um reflexo da presença negativa dele e da proximidade entre os dois? Teria ela consciência das regras que infringia, não apenas leis, mas também regras sociais? Considerando que há um debate sempre acirrado em relação à diminuição da maioridade penal no nosso país, Lolita é uma obra que, mesmo após mais de quatro décadas, não deixa de ser atual. Pois se no filme o catalisador da “maldade” da personagem é o sexo, na vida real são a miséria e o crime, mas que diferença existe mesmo entre Lolita e os menores envolvidos no tráfico de drogas? Quando se pensa não apenas no caráter atemporal de sentimentos como o amor e a obsessão, mas na criminalidade infantil e nos casos de pedofilia, envolvendo até membros do clero, percebe-se que é pouco provável que Lolita deixe de ser uma obra atual. E isso é provavelmente a maior conquista a que uma obra de arte pode almejar, pois críticos e opiniões vêm e vão, mas quem dá a última palavra é sempre o tempo.
      Para aumentar a carga dramática do filme Kubrick optou por subverter a ordem cronológica do romance, transformando a narrativa iniciada “in media res” num enorme flash-back que nos apresenta o início da relação do Professor Humbert com Charlotte (Shelley Winters) e a progressiva atração deste pelos gostos da enteada. O diretor viu-se obrigado a aumentar a idade da garota para catorze anos, e não os doze originais de forma a atenuar o ato pedófilo. O filme, rodado inteiramente em preto e branco e condenado pela dureza da censura, não deixa de ser de uma enorme ousadia, assumida de resto no slogan que acompanhou a sua promoção “How did they ever make a movie of Lolita?”. A temática da obsessão sexual, tal como outras obsessões, atravessou a obra do diretor, mas voltou a ser especificamente abordada no fim da sua carreira em De Olhos Bem Fechados. A título de curiosidade, Sue Lyon tinha 16 anos quando filmou esse filme.
      A única maneira digna de terminar essa resenha é lembrar a memorável atuação de Peter Sellers (ou mais uma delas) e dizer que, apesar de ser um dos filmes menos prestigiados do diretor, Lolita tem um mundo a oferecer ao espectador, se ele tiver estômago para embarcar na jornada. Em uma palavra, é Kubrick.

Lolita, Inglaterra, 1962, 152 min. Original em Preto e Branco. Distribuido pela Warner Bros.
Com James Mason, Shelley Winters, Sue Lylon, Gary Cockrell, Jerry Stovin e Peter Sellers. Dirigido por Stanley Kubrick. 

sexta-feira, 17 de junho de 2011


Como ter boas ideias agora
Em livro, consultor explica seu método de 11 passos para chegar a insights inovadores

Gerald Sindell é presidente de uma consultoria em Los Angeles cujo slogan, “How to Think Process” (algo parecido como “O processo de como pensar”), é auto-explicativo. Sindell passou a vida tentando entender como pensamos e ajudamos nossos amigos e/ou clientes a ter novas idéias. Agora, no seu livro The Genius Machine (“A máquina do gênio”), ele explica seu sistema de 11 passos para transformar idéias cruas em brilhantismo. Sindell, beirando os 60, iniciou sua carreira escrevendo, dirigindo e produzindo filmes. Em suas próprias palavras, vivia atormentado pelo medo de que, assim que terminasse as filmagens, teria uma ideia brilhante que não poderia mais ser filmada. Esse medo permaneceu com ele. “Temos de ter as ideias mais brilhantes aqui e agora”, afirma. 
Segundo ele, nenhuma grande insight* ou inovação surge sem antes se reconhecer a solução. Uma grande idéia começa pelo próprio problema. Essa é a fase 1. Uma vez conhecendo isso, é hora de conhecer suas limitações. A fase 2 é o que o autor chama de “busca da identidade”. "A esta altura, as soluções começam a tomar corpo", diz ele. Mas a musculatura só vem quando elas são testadas. Como? Primeiro, imaginando as suas consequências possíveis (sejam elas benéficas ou nefastas), como se elas já existissem no mundo. Essa é a fase 3, e ajuda a aprimorar suas idéias.

Na fase 4, se coloca a idéia pela primeira vez em contato com o mundo exterior. Mas “evite expô-la aos pessimistas e aos advogados do diabo”, alerta Sindell. Deve-se procurar o auxílio de pessoas lúcidas realmente interessadas em ajudar a tocar essa idéia pra frente. Elas farão objeções e comentários sinceros que darão nova “sintonia fina” à ideia. Essa voz de fora será muito útil também na fase 5, responsável por identificar como a nova idéia se encaixa no mundo já existente. Que idéias a precederam? No que ela pode colaborar? Muitas das idéias morrem aí. Mas o teste fortalece as sobreviventes. 

A fase 6 é focada no público-alvo. Nem sempre é uma tarefa óbvia. “Muitas vezes, o público inicial imaginado por nós não é o maior ou o mais significativo”, observa Sindell. A fase 7 é a de amadurecimento e de polimento da idéia: agregar valor a ela, buscar ângulos ainda não pensados. É chamada por ele de fundação: o alicerce da idéia, agora tangível, no mundo real.


A fase 8 é a do retoque final. “Seja na criação de uma granja ou no lançamento de um site na web, é a hora de se certificar de que a idéia/projeto/produto realmente vai cumprir plenamente a sua meta”, diz Sindell. Se tudo parece funcionar até agora, chegou a hora, na fase 9, de comunicá-la para o público. "Coloque-se no lugar do cliente nesse momento, diz o consultor: pense no que a ideia é importante para a vida dele".


A penúltima fase, para Sindell, é a mais importante do processo. Trata-se do impacto da idéia. É a décima, mas poderia ser a primeira, e nasce da pergunta: “Daqui a três anos, se a minha inovação for bem-sucedida, no que ela vai ter mudado o mundo?”. O autor a chama de gut feeling (ou “sentimento visceral”), porque não existe a grande inovação sem ele. A última fase: "seja advogado da sua ideia. Se você delegar essa função para outros, é meio caminho para o fracasso", conclui ele.





*introspecção.