Linguística
Aplicada. Pense nessa “teoria” inserida no ramo de todas as ciências
linguísticas, considerada uma hora acima da própria (uma vez que a abrange), e outrora um “vira
e mexe” com todo o ramo linguístico; e trate-a como fundamental no que se diz
respeito aos campos do conhecimento cognitivo e metacognitivo. É visível que utiliza-se tanto
de cognitividade (para analisar a capacidade de conhecimento de um determinado assunto em
questão, no caso a língua) quanto de metacognitividade (uma vez que estuda-se
estratégias de como se adquirir o conhecimento que lhe fora designado na obtenção de determinada tarefa) para se entender “o
funcionamento” da mais “nova ciência”, “descoberta” no século passado, porém
ainda passando por processo de constantes e consideráveis “suaves avanços”.
A vista dessas primeiras observações e notificações, surge-nos um artigo, publicado em University of Cambrigde, sobre o tema em
questão: O que seria Linguística
Aplicada?. E eis a conclusão: “tarefa” bastante complexa e demasiadamente complicada.
Como justificativa para tamanhas dúvidas, o surgimento de algumas notáveis
perguntas: Seria ela parte da linguística... ou abrangeria ela toda a Linguística?
Seria ainda, apenas uma base metodológica, ou simplesmente um manual de
instruções sobre como lidar com língua e sociedade no cotidiano escolar e,
posteriormente, acadêmico? Diante desses questionamentos, fica visível uma
divisão entre linguistas que estudam a linguagem em um dado ponto do tempo
(geralmente o presente, linguística sincrônica) e aqueles que estudam sua
evolução através do tempo (linguística diacrônica), séculos, por vezes. Isso
porque geralmente os linguistas de um determinado campo acham que as “laterais”
do outro sejam menos interessante e forneçam menos possibilidades de
compreensão para os frequentes problemas da linguagem. Afinal, não estamos a
discutir questões capazes de solucionar problemas relacionados a “aquisição”
(mesmo que “embutidamente”, no real sentido da palavra) de conhecimento quanto
a práticas de ensino de língua estrangeira?
Podemos
observar, ainda de acordo com o artigo de Cambridge,
que a Linguística Aplicada é notoriamente algo bastante “difícil” de se
conceituar, justamente pelo fato de pertencer ou não a outras áreas Linguísticas.
Fazendo um link com Davies & Dier
(2004), que partilham da mesma dificuldade, é interessante, em sua pesquisa, a
maneira como ambos abordam o caso. E a(s) pergunta(s) que não quer(em) calar: Como podemos nós, meros comuns e humanos
professores de língua estrangeira, ensinar melhor uma língua estrangeira?
Fica visível que, nesse momento, uma série de outras perguntas deve estar
surgindo em sua cabeça. Uma delas com certeza seria o método de ensino de aquisição
(outra vez ela) de língua estrangeira, proposto pelos europeus,
norte-americanos – geograficamente tratando de Canadá, México (sim, os
mexicanos também) e claro, os Estados Unidos – e asiáticos, uma vez que a
variação fonética de ambos é totalmente diferente; e se é possível aprender uma
língua estrangeira em 6 meses – visto que hoje é uma tortura (embora
silenciosa) psicológica. E claro, a pergunta que não quer calar: Quais
estratégias você, professor, se utilizou para tal milagre, visto que trata de
um programa bilíngue para uma população L1 (trazendo para nosso país, o Brasil,
onde praticamente 85% da população só fala um português muito “mal falado”)?
Então,
sigamos com algumas possíveis definições (confesso eu que nunca presenciei algo
científico tão complicado de se conceituar!). De acordo com Brumifit (1997), Linguística Aplicada seria uma investigação teórica e empírica dos problemas reais do mundo, tratando-se de língua; Schmitt e Celce-Murcia (2002) definem-na como “algo” que
usamos para conhecer a língua, e como é “apreendida” ou usada, com objetivo de
solucionar problemas comunicativos no mundo real. “Blindado” com um “contexto
histórico minado”, porém “recheado”, os autores procuram conduzir o leitor a
compreender um pouco da “confusa” história do surgimento da Linguística
Aplicada, citando nomes como Bloomfield, Charles, B. Fries, Mackey, Howatt. Os dois escritores destacam o rápido e vasto crescimento da tal “ciência”, que felizmente
“não brocha”, pelo contrário, simplesmente “floresce”, chamando atenção da comunidade
linguística, de departamentos acadêmicos, com destaque em diversos jornais
internacionais, “ganhando” merecidamente uma associação internacional: Association Internacionale de Linguistique
Appliquée (AILA) – Yi, in français. Concluindo seu artigo, nos apresentam
um fato interessante, que muitas vezes nos passa meio que desapercebidos: a
distinção entre Linguística Aplicada
e as aplicações da linguística. Sustentando-se
no comentário de Widdowson (2000), no
caso da Linguística Aplicada, “a suposição é de que o problema pode ser
reformulado pela aplicação direta e unilateral de conceitos e termos
decorrentes da investigação linguística em si”. Em outras palavras, os famosos e técnicos “problemas
de linguagem são passíveis de soluções linguísticas. Tratando-se de Linguística Aplicada, a intervenção é crucialmente uma questão de mediação (...) tendo de
se relacionar e conciliar diferentes representações da realidade, inclusive a
da linguística, sem excluir outros”.
Para
não “fugirmos do costume” de linkagem,
Signorini (1998) afirma que a linguística aplicada tem buscado, por sua vez, a
referência de uma língua real; em outras palavras, uma língua falada por
falantes reais em suas práticas reais e específicas. Esse fato é bem
interessante, se trouxermos pro campo sociolinguístico, visto que é analisada a
competência linguística de cada indivíduo, dentro da esfera social a que faz
parte. Por isso a necessidade de um objeto de pesquisa (teoria): o estudo de
práticas específicas de uso da linguagem em contextos e situações específicas
do cotidiano de ensino ou social. Com esse tipo de estudo, espera-se que a
ênfase nas questões sociais, que culminam em uma desigualdade verbal
comunicativa, faça-se uma relação de interdependência não determinística entre
o micro e macro contexto que se insere o processo interacional da linguagem.
O estudo da comunicação em contextos institucionais passa, dessa forma, a
apontar a importância do ideológico compreendido como um fenômeno de natureza
plural e indexical, capaz de constituir os processos semióticos que habitam o
cotidiano. Com isso, percebe-se uma postura metodológica, embora científica,
fundamentada em uma diversidade de investigações, nesse conceito de linguística
aplicada. Uma prova para essa afirmação, seria o fato de que, se por um lado, o
confronto de posições no campo institucional seja inevitável, por outro, não
deixaria de ser até certo ponto, paradoxal; isso porque "justamente os que estão
em uma posição privilegiada para melhor dimensionar as implicações éticas e
políticas da multiplicidade apresentada no cotidiano, continuassem reproduzindo
a partilha entre iluminados e ingênuos, entre verdades e enganos, dentre outros
fatores" (Signorini, 1998, p.108).
Por
isso a necessidade de uma formação teórica e também crítica da figura do
profissional da educação, uma vez que o próprio, especialmente em nosso país,
passa por problemas quase que constantes, principalmente quanto ao processo
didático para formar indivíduos falantes de uma língua estrangeira, seja qual
for. Com base nessa afirmação, Moita Lopes (1996), a formação teórico-crítica
do professor envolve dois tipos de conhecimento: o conhecimento teórico da natureza da linguagem tanto dentro quanto fora
da sala de aula, capaz de envolver conhecimentos interpretativos em contextos
sociais, como cultura histórica e costumes contemporâneos, podendo assim classificá-lo
como processo cognitivo; e o conhecimento
sobre como atuar na produção do conhecimento; desse modo a sala de aula
deixa de ser o lugar de certeza ou de aplicação para o conhecimento pronto e
acabado, e passa a ser um campo inexplorado; através disso, o professor utilizar-se-ia de processos metodológicos criados pelo próprio, claro, com base em
teorias de outros especialistas, mas desenvolverá autonomia para seu próprio
processo de ensino, visto que em cada sala de aula presencia-se uma situação
diferente. Esse último processo portanto, poderíamos classifica-lo como
metacognitivo.
Em virtude disso, o mesmo autor ainda conceitua a "tal" Linguística Aplicada como uma forma de
antidisciplina, ou conhecimento transgressivo, dessa forma, fazendo com que o
profissional da educação sempre exerça o ato de pensar, “despertando” dinamicidade quanto à
transmissão de determinado conteúdo abordado. Portanto, ela assume uma função
crítica, possibilitando todo um novo conjunto de questões e interesses tópicos
tais como identidade, sexualidade, ética, desigualdade social, desejo
ou reprodução de alteridade, que até então não eram consideradas como interesse
por parte da Linguística Aplicada – perceba a diferença de superficialidade e
especificidade. Desse modo, assume o papel de "rebelde sem causa da referida ciência", “dividindo-a”, portanto, nessas duas perspectivas. E não é que vem recebendo
adeptos, e notoriedade, ganhando assim, seu espaço, chegando a ser defendida
com todas “as unhas e dentes” que lhe são oferecidas? Em certos casos, Widdowson
(2001), sugere que a Linguística Aplicada tradicional é tida como "hipócrita" (coisa forte!),
pelo simples fato de sua “inabilidade” ou “má vontade” de dar conta de
“questões significativas atuais”, como (a) reconhecer
a importância de questões politicas (desigualdade, pobreza, racismo), mas
argumentar que essas mesmas questões não tem nada a ver com interesses
acadêmicos ou da LA, ou ainda que não tem como se decidir entre posições
opostas do ponto de vista ético e politico; (b) a adereção de uma ideologia particular, isso porque embora as
políticas subjacentes a posições criticas diferentes devam ser investigadas,
uma solução para tal feito não pode ser negar questões de cunho político e
“reivindicar uma neutralidade”; (c) o pouco
compreendimento da teoria crítica, como em debates acerca do
pós-estruturalismo, ou pós-colonialismo e pós-modernismo, fazendo com que o
individuo seja realmente “obrigado” a concordar com tais aceitações; o que a
linguística aplicada critica “pede”, é que se tenha conhecimento e argumentos
construtivos para assim “poder tentar rejeitar” tal afirmação ou questão
teórica, e adequá-la a corrente que lhe aprouver realmente; (d) as crescentes perspectivas críticas na
Linguística Aplicada, que provém de partes, com “agendas” diferentes,
tentando “exportar”, de maneira global, visões de crenças politicas e epistemológicas
como constituintes centrais da Linguística Aplicada, visto que ao mesmo tempo
“ignoram” as opiniões alternativas de mundo, afim de evitar a demanda por uma
Linguística Aplicada “mais responsável”. Uma vez exposta essas “hipocrisias”,
percebemos a necessidade de uma necessidade crucial de termos tanto
instrumentos políticos como epistemológicos para transgredir as fronteiras do
pensamento e da politica tradicionais; isso porque qualquer projeto crítico
necessita tanto de uma agenda politica critica como de uma preparação para
questionar os conceitos com os quais ela lida (Moita Lopes, 2006, p.82).
A vista de tanta "lorota", você, depois da paciência pra ler tudo (se é que teve), conseguiu conceituar a tal "Línguística Aplicada"?
Em minha humilde opinião de blogueiro que quer expor um pouco de tudo aqui para você, chego a apenas uma conclusão: Essa tal de "ciência" é muito complicada! E você deve estar sentindo a mesma coisa que eu. Porque, um campo interdisciplinar de estudo que identifica, investiga e oferece soluções para problemas relacionados com a linguagem da vida real, não se limita apenas a questões fonéticas, fonológicas, e de registro! Assim como a educação passa por constantes mudanças desde a república Platônica, do mesmo jeito são a linguística, a psicologia, a antropologia e (porque não?) a sociologia. Sim, todas essas ciências "saídas do forno", que partem desde o período da revolução industrial, e se estendendo até os dias de hoje, estão ligadas direta ou indiretamente a essa "nova área" do conhecimento. Por te tratar de um trabalho "puramente" descritivo, os grandes nomes do ramo procuram sempre clarificar a natureza da linguagem sem usar juízos de valor ou tentar influenciar o seu desenvolvimento futuro. O problema começa a surgir a partir de alguns profissionais (e mesmo amadores) que visam estabelecer "regras para a linguagem", sustentando um "padrão particular" que todos devem seguir. Sendo assim, o "conflito armado" dá-se por parte dos próprios, uma vez que os indivíduos atuantes nesses esforços de descrição e regulamentação possuem "sérias desavenças" (e tome briga!) sobre como e por que razão a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos "originários da guerra civil" podem (e fazem) descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes, e em linguagens diferentes. Aquilo que, para um grupo é uso incorreto, para o outro é uso idiossincrático, ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular – geralmente menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, responsável por usar a mesma linguagem.
E aí? Entendeu alguma coisa? Bem, ao menos uma coisa é certa. Apenas tenha em mente que a língua é um instrumento utilizado para a comunicação, e não para se obter um "padrão". Portanto, altere e adeque seu discurso quando necessário; seja um bom linguista, e (de)mo(n)stre unicamente sua competência comunicativa. "Burburinhos" à parte, sim, parece que ela (a Linguística Aplicada) literalmente "bomba" nos "bastidores linguísticos".
Por Dandan Gouveia. Ah, essa coisa, a
Linguística.
11/10/2013, no aniversário de minha
Cidade.
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