Natal. Natividade. Nascimento. Natalidade. Regeneração. Prosperidade. Longevidade. Fartura. Religiosidade. Simbolismos. Dessas tão poucas
concepções, qual o significado dessa data para você?
Ah, com certeza crescestes
sabendo que o bom velhinho percorre o mundo inteiro na noite da referida data
distribuindo presentes e alegrias para a população, e que ele nunca esqueceu de
você – afinal, fostes sempre aquele “felizardo”, contemplado com a sorte de ter
um presente próximo à sua cama, ou a árvore de Natal na linda sala de sua casa,
decorada adequadamente para essa festividade de origem nórdica. Família
reunida, fartura com aquele “chester” (alguém já viu um?) e tantas outras
guloseimas, presentes reunidos em torno de uma árvore de plástico (outros ainda
privam por uma originalidade)... certo. Mas e o Papai Noel?
Bem, o bom velhinho que se conhece
hoje, aquele gordo e bonachão, de cabelo e barba brancas, de vestes escarlate, nada
mais é do que mero produto de um (i)memorável sincretismo de lendas pagãs e
cristãs, de modo que tal ponto seja impossível de identificar uma fonte única
para tal “ser mitológico”. Sabe-se, porém, que sua aparência foi fixada,
difundida e “solidificada” para o mundo na segunda metade do século XIX por um
famoso ilustrador e cartunista americano, Thomas Nast, inspirador, por sua vez,
de uma avassaladora campanha publicitária da Coca-Cola nos anos 1930 – em minha
humilde opinião, uma das maiores estratégias de marketing já realizadas. Em
suas gravuras, o único traço que destoa significativamente do Noel de hoje é o
longo cachimbo (o dele fumava sem parar), algo que nossos tempos antitabagistas
já não permitem ao bom velhinho. O sucesso da representação pictórica feita pelo
cartunista não significa que ele possa reivindicar qualquer naco da paternidade
da lenda, mas apenas que “seu Santa Claus” – “Papai Noel’s name in inglês” –
deixou no passado e nas enciclopédias de folclore a maior parte das variações
regionais que a figura do distribuidor de presentes exibia, dos trajes verdes
em muitos países europeus aos chifres de bode (!) em certas lendas nórdicas –
ou você acha que não há vários personagens para uma quase equivalente história
imersa em tantas tradições?
Antes das flores, um fator de
unificação desses personagens constava na referência mais ou menos direta, aquela
quase sempre distorcida por crenças locais, a de São Nicolau, personagem
historicamente nebuloso que viveu entre os séculos III e IV da era cristã e que
gozou da fama de ser, além de milagreiro, especialmente generoso com os pobres
e as crianças. É impreciso o momento em que o costume de presentear as crianças
no dia de São Nicolau, 6 de dezembro, foi transferido para o Natal na maior
parte dos países europeus, embora a data primitiva ainda seja observada por
parte da população na Holanda e na Bélgica. Nascia assim o personagem do Père
Noël (como o velhinho é chamado na França) ou Pai Natal (em Portugal) – o
Brasil, como se vê, optou por uma tradução pela metade.
Verdade seja dita, a festividade
Natalina é uma das épocas mais lucrativas para o capitalismo, para a Coca-Cola,
para as indústrias de brinquedos, para a indústria alimentícia e seus
derivados. Tudo o que “Papai Noel hoje faz” é visando adquirir lucro, saldo
(sempre positivo!), enquanto que o espírito de solidariedade vai sendo deixado
de lado; desapercebidamente, uma sociedade extremamente individualista está se
formando. Os valores hoje disseminados, não ensinam realmente uma busca por uma
essência da vida, muito menos de sabedoria plena – seria o capital hoje fonte para
sabedoria? Tais valores “desvirtuam” o indivíduo (já parou pra pensar como será
o significado dessa data daqui a uns anos?), retirando as possibilidades de
encontrar-se com suas tradições. Há um constante engano, e a “coisa vai se
saturando” em um nível tão alto, que não há espaço para se optar por uma defesa
de intelecto. “Bombardeados” constantemente por informações fúteis, é
despertada em nós a “doce” falsa necessidade comercial, o que é visível que não
irá em nada mudar nossa essência – o que muda a essência do homem?
Exatamente nesse contexto, “mente
vs. Capital”, é que foi (re)originado o Natal. Essa data é comemorada desde á
antiguidade, representando uma celebração ao deus que determinado povo
cultuava. Portanto, é perceptível que tal festa não deriva do (re)nascimento de
Cristo. Desse modo, o símbolo de tal dia comemorativo tornou-se algo
completamente simbólico, diferentemente de sua origem. Dados informam que Jesus
teria nascido em março, e não em dezembro, como acredita-se ser. Então, o que se
sucede nos dias de hoje em relação à tal festividade?
Seria essa uma resposta difícil
de responder? Creio que não. Será que a distorção dos ideais pelos soberanos (nos
tempos mais remotos) e pela mídia que vem sustentando essa ideia até os dias
atuais, possui certa frugalidade, ou seria algo que demanda muita complexidade?
Pode-se perceber que essa pergunta com certeza vai remeter a vários destinos, porém
os destinos se condensam em apenas um: o de explorar a crença do povo e lucrar
com sua alienação. Percebe a simultaneidade? Se Maomé não vai a montanha... ah,
mas bem! De acordo com nossos costumes ocidentais, os presentes são trocados
pelos familiares como símbolo de afeto. Mas aposto que você nunca refletiu
sobre o significado deste ”agrado”, ou já? Presentes não significam nada, apenas
um gesto meramente simbólico e (atualmente) capitalista, como a própria data.
Como comemorar uma festa de
fartura, se “na mesa de poucos, fartura adoidado, mas se olhar pro lado depara
com a fome”? Distribuímos tantos presentes para os não necessitados, e vemos
crianças e toda a sorte de pessoas sem um lar, mendigando nas ruas. Ódio e intolerância são semeados durante o ano inteiro (na maioria das vezes para com "o próximo mais próximo") e ao findar do
próprio sorrisos e compaixão são distribuídos? A vinda de um Cristo ao
mundo é celebrada em apenas uma semana, e esquecida durante o ano inteiro. Decoram-se casas, cidades, mas não saciam as necessidades básicas da população. Quanta desigualdade. Quanta “precundialidade”.
Quanta sociedade. Quanta “modernidade”. Façamos um favor a nós mesmos: Comemoremos
o fim de ano (calendário romano) se bem assim desejarmos, com nossas famílias (tem aqueles parentes que
chegam de tão longe) e as pessoas que queremos bem não apenas naquele momento
do ano; mas, encarecidamente, não deixemos que invadam e transformem nossas mentes em uma feira
de sonhos capitalistas.
Ah, perdão! A você, o meu feliz
Natal.
Por Dandan Gouveia. Apenas pensando na vida.
24 de dezembro de 2013.
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