quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Um pouco de reflexão: O espírito natalino e seus ideias de hoje

    Natal. Natividade. Nascimento. Natalidade. Regeneração. Prosperidade. Longevidade. Fartura.  Religiosidade. Simbolismos. Dessas tão poucas concepções, qual o significado dessa data para você?
        Ah, com certeza crescestes sabendo que o bom velhinho percorre o mundo inteiro na noite da referida data distribuindo presentes e alegrias para a população, e que ele nunca esqueceu de você – afinal, fostes sempre aquele “felizardo”, contemplado com a sorte de ter um presente próximo à sua cama, ou a árvore de Natal na linda sala de sua casa, decorada adequadamente para essa festividade de origem nórdica. Família reunida, fartura com aquele “chester” (alguém já viu um?) e tantas outras guloseimas, presentes reunidos em torno de uma árvore de plástico (outros ainda privam por uma originalidade)... certo. Mas e o Papai Noel?
      
    Bem, o bom velhinho que se conhece hoje, aquele gordo e bonachão, de cabelo e barba brancas, de vestes escarlate, nada mais é do que mero produto de um (i)memorável sincretismo de lendas pagãs e cristãs, de modo que tal ponto seja impossível de identificar uma fonte única para tal “ser mitológico”. Sabe-se, porém, que sua aparência foi fixada, difundida e “solidificada” para o mundo na segunda metade do século XIX por um famoso ilustrador e cartunista americano, Thomas Nast, inspirador, por sua vez, de uma avassaladora campanha publicitária da Coca-Cola nos anos 1930 – em minha humilde opinião, uma das maiores estratégias de marketing já realizadas. Em suas gravuras, o único traço que destoa significativamente do Noel de hoje é o longo cachimbo (o dele fumava sem parar), algo que nossos tempos antitabagistas já não permitem ao bom velhinho. O sucesso da representação pictórica feita pelo cartunista não significa que ele possa reivindicar qualquer naco da paternidade da lenda, mas apenas que “seu Santa Claus” – “Papai Noel’s name in inglês” – deixou no passado e nas enciclopédias de folclore a maior parte das variações regionais que a figura do distribuidor de presentes exibia, dos trajes verdes em muitos países europeus aos chifres de bode (!) em certas lendas nórdicas – ou você acha que não há vários personagens para uma quase equivalente história imersa em tantas tradições?
     Antes das flores, um fator de unificação desses personagens constava na referência mais ou menos direta, aquela quase sempre distorcida por crenças locais, a de São Nicolau, personagem historicamente nebuloso que viveu entre os séculos III e IV da era cristã e que gozou da fama de ser, além de milagreiro, especialmente generoso com os pobres e as crianças. É impreciso o momento em que o costume de presentear as crianças no dia de São Nicolau, 6 de dezembro, foi transferido para o Natal na maior parte dos países europeus, embora a data primitiva ainda seja observada por parte da população na Holanda e na Bélgica. Nascia assim o personagem do Père Noël (como o velhinho é chamado na França) ou Pai Natal (em Portugal) – o Brasil, como se vê, optou por uma tradução pela metade.
     Verdade seja dita, a festividade Natalina é uma das épocas mais lucrativas para o capitalismo, para a Coca-Cola, para as indústrias de brinquedos, para a indústria alimentícia e seus derivados. Tudo o que “Papai Noel hoje faz” é visando adquirir lucro, saldo (sempre positivo!), enquanto que o espírito de solidariedade vai sendo deixado de lado; desapercebidamente, uma sociedade extremamente individualista está se formando. Os valores hoje disseminados, não ensinam realmente uma busca por uma essência da vida, muito menos de sabedoria plena – seria o capital hoje fonte para sabedoria? Tais valores “desvirtuam” o indivíduo (já parou pra pensar como será o significado dessa data daqui a uns anos?), retirando as possibilidades de encontrar-se com suas tradições. Há um constante engano, e a “coisa vai se saturando” em um nível tão alto, que não há espaço para se optar por uma defesa de intelecto. “Bombardeados” constantemente por informações fúteis, é despertada em nós a “doce” falsa necessidade comercial, o que é visível que não irá em nada mudar nossa essência – o que muda a essência do homem?
    Exatamente nesse contexto, “mente vs. Capital”, é que foi (re)originado o Natal. Essa data é comemorada desde á antiguidade, representando uma celebração ao deus que determinado povo cultuava. Portanto, é perceptível que tal festa não deriva do (re)nascimento de Cristo. Desse modo, o símbolo de tal dia comemorativo tornou-se algo completamente simbólico, diferentemente de sua origem. Dados informam que Jesus teria nascido em março, e não em dezembro, como acredita-se ser. Então, o que se sucede nos dias de hoje em relação à tal festividade?
     
       Seria essa uma resposta difícil de responder? Creio que não. Será que a distorção dos ideais pelos soberanos (nos tempos mais remotos) e pela mídia que vem sustentando essa ideia até os dias atuais, possui certa frugalidade, ou seria algo que demanda muita complexidade? Pode-se perceber que essa pergunta com certeza vai remeter a vários destinos, porém os destinos se condensam em apenas um: o de explorar a crença do povo e lucrar com sua alienação. Percebe a simultaneidade? Se Maomé não vai a montanha... ah, mas bem! De acordo com nossos costumes ocidentais, os presentes são trocados pelos familiares como símbolo de afeto. Mas aposto que você nunca refletiu sobre o significado deste ”agrado”, ou já? Presentes não significam nada, apenas um gesto meramente simbólico e (atualmente) capitalista, como a própria data.
     
     Como comemorar uma festa de fartura, se “na mesa de poucos, fartura adoidado, mas se olhar pro lado depara com a fome”? Distribuímos tantos presentes para os não necessitados, e vemos crianças e toda a sorte de pessoas sem um lar, mendigando nas ruas. Ódio e intolerância são semeados durante o ano inteiro (na maioria das vezes para com "o próximo mais próximo") e ao findar do próprio sorrisos e compaixão são distribuídos? A vinda de um Cristo ao mundo é celebrada em apenas uma semana, e esquecida durante o ano inteiro. Decoram-se casas, cidades, mas não saciam as necessidades básicas da população. Quanta desigualdade. Quanta “precundialidade”. Quanta sociedade. Quanta “modernidade”. Façamos um favor a nós mesmos: Comemoremos o fim de ano (calendário romano) se bem assim desejarmos, com nossas famílias (tem aqueles parentes que chegam de tão longe) e as pessoas que queremos bem não apenas naquele momento do ano; mas, encarecidamente, não deixemos que invadam e transformem nossas mentes em uma feira de sonhos capitalistas.
       Ah, perdão! A você, o meu feliz Natal.
Por Dandan Gouveia. Apenas pensando na vida.
24 de dezembro de 2013.

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